Continuando no final
27/10/2013 10:26
Ainda em algum lugar escuro, 06 de setembro de 2013
Normalmente nessas situações eu recorreria aos braços e olhares de um ser humano, mas é impossível no momento. Ele me ignora, minha existência para ele não importa mais, ou ele apenas está ocupado demais, o que será o que será...? Não importa. A verdade é que ele me escutava, talvez não quisesse, talvez não pudesse, mas ele sempre me escutava, sempre se importava, e era isso que fazia toda a diferença, porque quando alguém se importa as coisas ficam sempre melhores... Não eram criticas que ele me dava, era carinho e não apenas de amigo, ou pai, mas um carinho de anjo, e por muito tempo eu o enxerguei desse jeito, como meu anjo particular.
Mas agora a realidade é outra, eu estou sozinha, eu me encontro sozinha, finalmente, e a realidade é que eu sempre estive sozinha, mas agora o sentimento é ainda mais esmagador, eu não escolhi isso, toda a minha vida eu vivi em prol de outra pessoa, todas minhas escolhas foram em prol de outra pessoa, eu vivi escolhendo não possuir vida própria, eu me neguei o direito de ter minhas próprias escolhas para apenas fazer o que melhor fosse para ELA, e hoje, ela me nega perante todos, ela me exclui de sua presença apenas por algo que eu nem sei, o que a torna então diferente dos demais que me excluíram? Como ela pode criticar o sacerdote que me expulsou um dia de sua vida depois de eu ter me dedicado por tanto tempo a servi-lo? Ela não é diferente em nada dele, talvez seja ainda pior, afinal, mesmo que eu não tenha tido escolha, ainda somos o mesmo sangue. Maldita sorte.
Sim, pois ainda me obriga a viver neste lugar onde tudo o que tenho é dor... Maldita sorte que me faz uma masoquista por amar de forma subserviente essa pessoa, amá-la ao ponto de que a cada espinho eu permaneça sorrindo, permaneça firme, permaneço amando-a, ainda que eu não mereça amá-la...Se ela soubesse que eu posso morrer por ela, será que ainda sim insistiria em me machucar?
Nessas horas eu correria até o Padre, escutaria seus conselhos, ele saberia o que fazer, ele sempre saberia o que me dizer, ele que foi o único a me conhecer, ele que sempre soube quem eu sou, pois nunca fui capaz de enganá-lo, ele que me viu quando eu não era nada, ele que escutou quando eu gritei...
O que eu fiz para ela? Onde eu errei em amá-la?Onde eu me conformei em ser quebrada por ela?Eu nem ao menos sei o que fiz de errado para poder ir me humilhar para ela, talvez, eu nem sei sobre o que eu devo me desculpar, claro, afinal eu sou craque em me humilhar para ela, é algo que eu amo fazer, é algo que sempre a deixou feliz
Por pior que tivessem sido nossos mormentos, ela foi quem me trouxe de volta da casa do “besta- fera”, e por isso só minha gratidão se torna eterna, mas creio que até para gratidão deva ter algum limite, eu sinto tudo tão extremo, e por isso me encontro nessa situação, até que ao estou tão mal, quebrada, morta, e só, mas ainda poderia ser pior, eu poderia estar feia, e dane-se se a beleza é algo tão fugaz...
A quem eu gostaria de enganar?Talvez ao diabo? Mas como enganar a mim mesma? Hoje estou aqui, simplesmente estou aqui, tendo certeza que não é onde pertenço, sabendo que não sou bem vinda, entendendo que nada é como foi, nada poderá ser, por que para mortos não há esperança, e estou morta. Não por minha escolha, nunca por minha escola. A escolha nunca me foi dada, ela nunca me pertenceu.
Era uma vez uma princesa que não teve seu final feliz.Ela não foi perseguida pela bruxa má, ela se deixou enganar pela gratidão. Não houve madrasta má, nem anões para ajudar, ela não pode dormir por 100 anos, e também não encontrou uma fera encantada, o lobo mau não a seguiu, ela apenas foi para casa da avó, e lá a grande vilã era sempre ela.
Ela matou a vovozinha, dormiu com o lobo...E permaneceu infeliz porque até o que ela pensou que fosse escolha dela, nunca passou de vontades que teve de realizar, para o bem maior.
O tempo dela acabou o meu tempo também, mas e agora? O que fazer com a vida que eu ainda tenho? O que fazer com o sentimento que eu ainda carrego? Pedir desculpas? Mas pelo que? O problema todo é que eu nem sei sobre o que eu devo me desculpar, por nascer? Por ainda existir? Olha, na boa, acredite quando eu digo que sou a que mais ando inconformada com essa questão, e com certeza, por mim, eu já teria partido há muito tempo...Mas a coragem de acabar com essa existência medíocre sempre me falta no momento certo, decisivo, ou errado, quem se importa...
Agora estou no escuro, e sou incapaz de atravessar essa fase, por enquanto, pois nunca foi novidade que sou uma sobrevivente, eu sempre serei capaz de sobreviver, talvez não inteira, mas vou sobreviver, é inerente à minha espécie sobreviver, demônios nunca são fáceis de matar, e pela maneira com que sou tratada, devo ser um de classe bem alta, só os bons demônios são desprezados pelas boas pessoas.
OU eu esteja enganada... Neste momento eu só queria voltar na época que eu sempre poderia ir até ele e mesmo que estivesse ocupado, eu teria apenas que esperar e ele me reconfortaria... Se soubesse que falta me faz.
Eu não entendo os planos e desígnios de DEUS, e nem cabe a minha ignorância sonhar em entender, mas se era para eu ferir e ser ferida assim, porque me permitiu existir?
Houveram várias oportunidades de me mandar embora deste mundo, e eu continuo aqui opor vontade dele, e nesta casa por minha covardia, mas isso não está em discussão.
Novamente me despeço, por pouco tempo, afinal a tarde mal se iniciou,e até lá muita dor ainda será derramada nesse teclado.
V.